Atitude é a maneira como percebemos, exploramos e explicamos o mundo. As atitudes expressam crenças, desejos e emoções. Quando tomamos uma atitude, colocamos para funcionar, simultaneamente, o que acreditamos, o que queremos e os sentimentos gerados por esse acreditar/querer. A combinação crença-desejo-emoção é poderosa. Dependendo das circunstâncias, ela pode nos mover adiante. Ou pode nos paralisar.
Pessoas têm crenças, desejos e emoções diferentes e por isso tomam atitudes diferentes em relação a um mesmo assunto. Por exemplo, o assunto Deus: uma pessoa religiosa acredita que Deus existe, deseja rezar e sente prazer em fazê-lo. Já um ateu não acredita na existência de Deus, não tem vontade de orar e não se sente motivado por pregações. As divergências entre as atitudes de duas pessoas sobre um mesmo tema podem ser evidentes ou sutis.
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COERÊNCIA x INCOERÊNCIA
Podemos também observar uma só pessoa, sem compará-la com outra. Você já deve ter usado os adjetivos coerente e incoerente para descrever o conjunto das atitudes de alguém. Mas o que seria uma “pessoa coerente”? Difícil responder, mas eu formularia assim: pessoa coerente é aquela que consegue reduzir ao máximo possível o abismo normalmente existente entre o que pensamos, dizemos e fazemos. De qualquer forma, é impossível ser coerente/incoerente em termos absolutos.
Por quê? Porque o nosso ideal de liberdade inclui a opção de podermos adotar uma atitude em relação a trabalho, outra em relação a amor e outra em relação a saúde, por exemplo. Já notou que há pessoas super conservadoras em política mas muito liberais em costumes? O fato de nossas atitudes (as suas e as minhas) parecerem harmônicas (do nosso ponto de vista) não significa grande coisa. No fundo, todos somos incongruentes… Então, a coerência que se dane (risos).
A propósito, um ponto importante sobre isso: o fato de usualmente qualificarmos as nossas atitudes apenas como favoráveis ou desfavoráveis não significa que as ambivalências – ou seja, a simultaneidade de dois sentimentos opostos/conflitantes – não tenham importância. Já percebeu o mal-estar que nos causa a percepção de uma ambivalência? Por exemplo, querer e ao mesmo tempo não querer?
MUTÁVEL MUTANTE
A gente sabe que as atitudes expressam crenças, desejos e emoções, mas o modo de expressar a combinação disso nunca é fixo. Ao longo da vida a gente pode mudar de atitude. Quem hoje acredita no poder do dinheiro pode adotar amanhã uma atitude de total desapego. Aquele seu amigo que quando jovem era um pacifista convicto hoje (aos 60 anos) defende o uso da violência para combater a violência.
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As contradições dos outros frequentemente nos chocam porque eles/elas têm uma conjugação crença-desejo-emoção diferente da nossa; e a gente se esquece que, ao interpretar unilateralmente as atitudes de alguém, não levamos em conta a nossa própria conjugação crença-desejo-emoção. No entanto, as atitudes (as bem visíveis) são resultado de um longo processo de experiência e aprendizado.
Crenças, desejos e emoções, portanto, estão na base das atitudes e das não atitudes – sim, não tomar atitudes é uma forma de atitude, claro. A família tem papel importante na formação da nossa mentalidade, nos primeiros anos. Inicialmente, imitamos as atitudes dos pais, irmãos, irmãs, parentes, amigos; e a cultura nos ensina o aceitável e o inaceitável. Outro aspecto é o econômico. Em muitos casos, tomar ou não tomar certa atitude vai depender de quanto dinheiro temos, concorda?
DAS EMOÇÕES
A atitude decorre da leitura que fazemos do que para nós é a realidade naquele dado momento. Nesse sentido, podemos afirmar que as emoções são o componente mais importante da tríade. As emoções colorem o nosso sentir com uma ampla variedade de tons, e dão brilho à nossa vida. Mas elas vêm à tona em graus variados, que vão do moderado ao super intenso.
Se a emoção é fraca, a crença e o desejo tendem a ficar menos expostos. Se, ao contrário, é explosiva, toda a tríade se torna explosiva para quem vive a experiência. A vingança, por exemplo, tem origem em emoções muito fortes, que surgem quando as crenças e as expectativas são abaladas por visões de mundo conflitantes. Mas a questão central é: podemos controlar os sentimentos ligados às nossas atitudes? Diria que sim.
Exemplo: uma pessoa descobre que tem diabetes. Ela pode ter uma atitude intensa em relação ao problema. Crença: “Diabetes é uma doença horrível”. Desejo: “Eu realmente queria não tê-la adquirido”. Emoção: “Estou triste e com muito medo”. Uma reação moderada seria: “Diabetes não é fácil, mas acho que posso ter uma vida mais ou menos normal. Estou triste, mas vou enfrentá-la”. Em suma: a atitude não é sempre natural. Usando a consciência e o feeling, podemos “calculá-la”.
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OTIMISMO x PESSIMISMO
Pesquisas indicam que a maioria de nós não dá muita importância à probabilidade de termos um câncer ou de sofrermos um acidente de carro; e que acreditamos que viveremos bem até os cem anos e que a carreira que escolhemos sempre terá ótimas perspectivas (mesmo diante de incontestáveis provas em contrário). No geral, sim, somos mais otimistas do que realistas, e assim vamos. Mas aquela velha “teoria” de que o segredo da felicidade está em não criar muitas expectativas – para não se decepcionar – se revelou furada porque:
1) A frustração é resultado de uma interpretação sua sobre o que não deu certo para você. Porém, nem sempre essa sua interpretação está calcada em dados indiscutíveis;
2) Pesquisas revelaram que pessoas com expectativas altas se sentem mais completas (existencialmente) do que as pessoas com expectativas baixas.
“A simples antecipação de um evento que acreditamos será positivo para nós já eleva a nossa sensação de bem-estar”, diz a neurocientista Tali Sharot. Já o negativismo é como um pneu furado. Se você não trocá-lo, você não chegará a lugar nenhum.
Agir de maneira construtiva em situações adversas não tem nada de naïf ou fantasioso. Ao contrário, é o pleno exercício bem exercido do que chamamos, genericamente, de “instinto de sobrevivência”. A atitude positiva está na lista das coisas mais importantes da vida, aliás. E você não precisa ter nenhum talento especial para adotá-la.