Está cada vez mais difícil fazer escolhas e tomar decisões? Você lê livros de autoajuda, frequenta palestras de gurus famosos, dá ouvidos ao seu coach, não falta às sessões de psicoterapia e, mesmo assim, sente-se inseguro na hora de escolher e decidir? Você, que não é (nunca foi) uma pessoa tipicamente indecisa, sente que gasta cada vez mais tempo para fazer escolhas simples e tomar decisões cruciais? Se você se sente assim, não está sozinho. Escolhas e decisões tomam tempo, e o tempo parece cada vez mais escasso. E aí?
Antes de prosseguirmos, grife estes tópicos:
- Essa dificuldade crescente não é apenas sua, mas de toda a humanidade;
- Opções demais geram confiança de menos;
- O afã de querer acertar de primeira acaba nos paralisando;
- O que dificulta a escolha/decisão não é a escolha/decisão em si, mas sim as suas consequências;
- A gente morre de medo de se arrepender;
- Esquecemos que toda escolha/decisão tem um preço (monetário ou não monetário).
Para os místicos, deveríamos apenas aceitar que não há decisão certa ou errada (há apenas decisão e ponto). Os neurocientistas, por sua vez, demonstraram que nossos cérebros consideram múltiplas fontes de informação antes de decidir e que com o acesso mega multiplicado a essas fontes a mente cria um interminável debate interior.
O PARADOXO
Agora vejamos o problema pelo prisma cultural. Há um dogma – sim, um dogma – ao qual todos nós, ocidentais, sem exceção, independentemente de crenças e ideologias, estamos sujeitos: o dogma da liberdade de escolha (imprescindível às democracias, diga-se). Sendo livres para escolher, nosso bem-estar tende a ser super valorizado; ter a possibilidade de (e saber) escolher, então, é o auge do exercício dessa tal liberdade.
Porém, essa liberdade supostamente plena gera um paradoxo. Mais e mais opções nos tornam menos capazes de escolher ou de nos satisfazermos com as escolhas feitas. E o pior: depois de finalmente superarmos a dificuldade de escolha a gente tende a ficar insatisfeito com as escolhas feitas porque dentro da nossa cabeça parece haver sempre “a alternativa perfeita” (algo imaginado, idealizado, fantasiado, portanto irreal). A crença na “alternativa perfeita” é a base dos arrependimentos.
SOLUÇÕES
- Cortar/eliminar opções e não permitir que motivações estritamente publicitárias entrem no campo das escolhas que você considera relevantes;
- Concretizar: arregaçar as mangas e enfrentar o problema de escolher/decidir. Evitá-lo só vai dificultar ainda mais a escolha/decisão.
- Categorizar: agrupe itens por categorias. Exemplo: das centenas de sapatos que você viu em uma loja, dez lhe atraíram porque são confortáveis e/ou bonitos e/ou úteis. Agrupe-os: A) sapatos confortáveis; B) sapatos elegantes; C) sapatos para uso diário; D) sapatos sociais… E por aí vai. Lidamos melhor com categorias do que com opções, afirmam pesquisas.
- Do mais simples para o mais complicado. Haverá sempre mais informações do que você é capaz de processar. Então, é melhor começar pela opção mais fácil (para você).
DECISÕES CRUCIAIS
Grande parte das opções cujo processo decisório ocupa boa parte do nosso tempo diário têm a ver com consumo ou com consumismo. Ou seja, são escolhas facilmente substituíveis por outras. Sendo assim, o arrepender-se é passageiro. Sim, passa e fim (isto, se você não ficar se martirizando, claro). Porém, existe outro tipo de decisão que pode afetar não apenas o nosso dia/momento, mas o nosso destino: as decisões cruciais.
Nas decisões cruciais, o número de alternativas é geralmente pequeno. Em muitos casos, estamos lidando com apenas duas opções. Exemplos:
- Moradia: ir para uma cidade de médio porte do interior do estado, onde moram seus pais idosos, ou para uma vila de frente para o mar, como você sempre sonhou?
- Relacionamento: casar-se com o Cláudio ou com o Roberto? Com a Clara ou com a Lívia?
- Família: ter um filho, dois ou nenhum?
- Dinheiro: poupo eu mesmo ao longo dos anos ou faço uma aposentadoria privada?
PRÓS E CONTRAS
Decisões importantes como as citadas acima costumam gerar dor de cabeça e angústia. O que as torna difíceis é o modo como as poucas alternativas se relacionam entre si. Todas têm prós e contras e nenhuma é melhor do que a outra, necessariamente. Especialistas no assunto afirmam que é melhor avaliar com serenidade do que decidir pela alternativa aparentemente mais fácil e mais segura.
Você detesta o seu emprego, mas o seu chefe lhe dá um aumento de 25% para evitar que você cometa “a burrice” (na visão dele) de pedir demissão para finalmente fazer o que você mais gosta: esculpir torsos em madeira e vendê-los em feiras. Você já está quase decidido(a) a cair fora, mas faz as contas. A conclusão é óbvia: sua vida material vai melhorar. Por outro lado, você terá que corresponder às novas expectativas, e isso te ocupará mais, restando menos tempo para os torsos em madeira.
NÃO MISTURE A COM B
Neste ponto, tente não misturar valores como justiça, idealismo e estética com componentes científicos como comprimento, volume e peso (risos). Em outras palavras: variáveis como a vivacidade de um bebê engatinhando, o amor que você tem pelo seu pai, a paz interior que seu cão lhe proporciona, etc., etc. não podem ser mensuradas, mas o processo de uma decisão difícil pode revelar alguma coisa nova sobre você mesmo, e isso é interessante. Sim, o processo de tomar decisões cruciais nos coloca diante de novos eus, ou seja, ele nos ajuda a descobrir facetas antes desconhecidas da nossa personalidade.
Não deixe de ler outros dois artigos meus diretamente relacionados a escolher/decidir: “Nossas escolhas contêm paradoxos” e “Decisões cruciais afetam nosso destino“.
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