“Ame pessoas e use coisas. O contrário não.” Assim termina “Minimalismo: Um Documentário Sobre As Coisas Importantes”. O filme provoca reflexões sobre assuntos muito atuais. O tema central é o estilo de vida minimalista: possuir menos para poder viver com o mínimo necessário. A mensagem central também é a de que o minimalismo combate o consumismo, de alguma forma, e o Planeta agradece.
Mas não é o caso de diminuir, remover, doar, vender, enfim, desapegar até ficar nu com a mão no bolso. Não. Até porque esse tal mínimo necessário varia de pessoa para pessoa. Atinge-se a quantidade ideal quando o discernimento avisa que não há mais nada que se possa retirar/reduzir. Porém, o que mais importa não é o que vai embora, mas sim os espaços abertos para as coisas que não são coisas. Como assim?
Os minimalistas Ryan Nicodemus e Joshua Millburn, protagonistas do documentário, explicam: “Ao contrário do que normalmente as pessoas pensam, o nosso foco está em ter mais, não em ter menos. O nosso objetivo é ter mais tempo, mais paixão, mais criatividade, mais experiências, mais contribuições, mais contentamento, mais liberdade.”
POR QUE ACUMULAR?
Por que a maioria das pessoas compra tanto e acumula tanta coisa? O afã de querer possuir sem uma clara necessidade é causado por inúmeros fatores. Por exemplo, a propaganda onipresente (no âmbito coletivo) e situações psíquicas mal resolvidas (no plano individual).
Porém, nenhuma possível causa altera o fato de que o consumismo tem impactos negativos para a pessoa e para a coletividade. A acumulação gerada por compras compulsivas é um processo lento, gradual e muitas vezes imperceptível. Quando a pessoa se dá conta (esse dia acaba chegando), já está totalmente sufocada por suas toneladas de objetos.
GRADUAL
Tornar-se minimalista é um processo gradual também. Não se trata de partir para cima dos armários e começar a jogar tudo para os lados como naquelas cenas melodramáticas de filmes ruins. O primeiro passo é tentar responder às seguintes perguntas:
1) Por que você não resiste a uma comprinha?
2) Por que a sua casa e a sua vida ficaram assim, abarrotadas de coisas, a maioria delas inúteis e sem valor (nem monetário nem afetivo)?
3) E por que o seu tempo para as coisas que não são coisas é tão escasso?
Sem antes encontrar uma resposta satisfatória para essas questões, é grande o risco de o sujeito entrar em um shopping e comprar tudo o que puder e não puder (de novo). o problema físico (falta de espaço) é gerado pelo mental (descompensações, inseguranças, vazios).
SEMPRE FUI
Confesso que não vivi a experiência de migrar da acumulação para o minimalismo porque sempre fui minimalista. O que ocorreu (no meu caso) foi um aprofundamento, ano após ano, do meu modo minimalista de ser.
O ápice do meu “culto ao consumo” (risos) foi ter: um apartamento de três quartos (para duas pessoas e três gatos), um carro (para duas pessoas), um laptop, um celular, roupas (sempre a mesma quantidade), um par de botas, tênis para caminhar, sandálias e chinelos.
Já tive, porém, milhares de livros, que agora não passam de duzentos (e reduzirei mais ainda). Estou morando em Florença em um apartamento de 50 m² (também para duas pessoas – e uma gata idosa). Aluguei-o já mobiliado. Portanto, 99% das coisas que estão aqui não são nossas. Se fossem só minhas, eu as reduziria em mais da metade.
O fato é que:
- não sinto falta de espaço;
- não pretendo voltar a ocupar 150 m², como antes;
- meu minimalismo é diferente do de Ryan e Joshua.
RYAN E JOSHUA
Os dois contam que na faixa dos 30 anos de idade trabalhavam 80 horas por semana. Conseguiram tudo o que queriam: salário alto (“seis dígitos por ano”) e um autêntico desejo de ter e de ocupar. Tinham, ambos, carros grandes e casas de dois pavimentos. Nunca cheguei nem perto desse patamar.
Sempre optei por dosar as quantidades de tudo desde cedo e é fácil entender por quê: 1) Fui criado em um ambiente de poucos recursos, onde o desperdício era repreendido; 2) Sou viciado em liberdade. Na minha cabeça, assim como nas cabeças atuais de Ryan e Joshua, coisas prendem, em vez de libertar; coisas demais, então, drenam oxigênio, impedem a fluidez.
“Mesmo com todas aquelas coisas que pudemos comprar, não estávamos satisfeitos”, lembram. “Havia um vazio. E trabalhar cada vez mais só para comprar mais coisas não preenche nenhum vazio. Ao contrário. Só gera dívida, estresse, ansiedade, medo, solidão e culpa.”
O pior era não ter controle sobre o próprio tempo, sublinham. Concordo com eles quando dizem que liberdade é ter o maior controle possível sobre o próprio tempo. Sem isso, somos arremedos de gente.
ARMADILHAS
Mas, veja bem, não há nada de necessariamente errado em possuir. Se você quer ter um carro ou uma casa, ótimo. Se sonha ter uma carreira e criar uma família, tudo bem. As coisas importantes para você deveriam continuar sendo importantes.
O problema é viver em função de comprar (sem pensar) e acumular loucamente (sem se dar conta). Isso pode afetar a saúde, os relacionamentos, a criatividade, o crescimento pessoal. A cultura do consumo é cheia de armadilhas. Acima de tudo, ela aposta no individualismo e não nos incentiva a contribuir com algo que vá além de nós mesmos.
E não podemos desconsiderar um fator mega importante: todo objeto retido contém uma matéria prima extraída da natureza, e a natureza é finita. O mínimo de coisas a possuir é uma decisão individual, mas as consequências do ato de consumir/acumular são planetárias. Pensando nisso, Ryan e Joshua estão gerando um grande movimento em prol do minimalismo nos Estados Unidos, a nação mais consumista do mundo. O minimalismo combate o consumismo.
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O Organiza Brasil, maior feira de organizaçã do país, recebe o guru do minimalismo, Joshua Becker, para falar sobre desapego e movimento anti-ostentação. Sábado, dia 22, a partir das 9 horas. Pro Magno – Av. Profa. Ida Kolb, 513 – São Paulo. http://www.organizabrasil.com.br
Muito bom, professor! Fiquei curioso para ver o filme também. Abraço!