Quando nos sentimos minúsculos diante do Universo aquela pergunta eterna vem à tona: qual é o sentido da vida? A filosofia afirmaria que nada possui sentido em si. O sentido da vida seria determinado por nós mesmos, cada qual à sua maneira. A ciência, por sua vez, diria que vida e morte são partes do um mesmo processo. Pesquisas recentes, porém, demonstraram que o sentido da vida é uma vida com sentido.
Comprovou-se que experiências de prazer contemplativo podem impactar positivamente o nosso cotidiano e gerar muitos benefícios. Quem acredita que a sua própria vida possui um significado (qualquer que seja) é também mais feliz, mais otimista, mais bem integrado à sociedade e mais capaz de enfrentar o inevitável estresse diário, dizem os pesquisadores.
Além disso, uma existência rica de significado protege a saúde. Pessoas de todas as idades que participaram dessas pesquisas apresentaram: 1) risco de mortalidade menor; e 2) menos chances de enfartar, sofrer derrame e desenvolver doenças crônicas ou degenerativas.
DINHEIRO
Num primeiro momento, a chamada Psicologia Positiva tratou de individuar o que faz as pessoas “felizes”. A maioria dos estudos dessa linha indicou que dinheiro não é o fator principal. Agora os pesquisadores estão tentando entender sobretudo como as pessoas atribuem sentido às suas vidas e como pensam poder atingir “uma vida com sentido”.
O sentido da vida seria reconhecível por quatro características: 1) a significação; 2) o pertencimento; 3) a coerência; e 4) a orientação. A significação indica se aquilo que fazemos é relevante; o pertencimento é a sensação de ter um lugar no mundo; a coerência é aquilo que nos faz crer que existe alguma lógica no que fazemos; e, por último, a orientação, que se refere à clareza sobre os valores e objetivos a perseguir.
Tatjana Schnell, da Universidade de Innsbruck (Áustria), é uma das estudiosas que está tentando enfrentar a questão do sentido da vida por um prisma científico. Segundo ela, uma das principais fontes de sentido é o que ela chama de “generatividade” – quando alguém realiza alguma coisa de útil para a posteridade ou para o Todo.
GENERATIVIDADE
Exemplos de “generatividade”, segundo Schnell: transmitir os próprios conhecimentos e competências aos outros, atuar como voluntário em algum projeto social ou se empenhar no aperfeiçoamento de políticas públicas. Essas atitudes de doação ocorrem em todo o mundo, independentemente de nacionalidade. Estudo conduzido por Jan Hofer, da Universidade de Trier (Alemanha), feito com pessoas de 60 a 90 anos de idade, mostrou que o voluntariado é visto como algo valioso seja onde for.
A necessidade de cuidar, a espiritualidade, a religiosidade, a aspiração à harmonia e o desejo de aperfeiçoamento pessoal são motivações da espécie humana, concluiu Jan. O bem-estar psicológico e o nível de satisfação com a própria vida dependem de ações que vão além da luta por liberdade individual, poder e dinheiro.
Outro dado interessante: há pessoas que não veem sentido em suas vidas e tampouco experimentam crises por causa disso. Quase a metade dos jovens alemães, por exemplo, são “existencialmente indiferentes”. Significa que, além de terem pouco controle sobre suas vidas, sentem-se inadequados às exigências da era pós-moderna, criando certa apatia que os impede de enfrentar da busca por satisfação e sentido.
EXPERIÊNCIAS
A indiferença existencial comprova o quão complicada é a relação entre felicidade e sentido. A psicologia experimental está demonstrando, pouco a pouco, que a joie de vivre por si só não basta para alguém se considerar realizado. A (sensação de) felicidade gera efeitos maravilhosos em quem a sente, mas não altera de modo marcante e duradouro as práticas cotidianas e tampouco garantem longevidade.
Sendo uma situação passageira, a (sensação de) felicidade precisa estar inserida em um contexto maior. Segundo um estudo de Jinhyung Kim, da Universidade do Texas A&M, as pessoas interessadas em compreender o seu “verdadeiro eu” são mais propensas a desejar “experiências diferentes”, como ir a um concerto, viajar ou jantar em um restaurante, por exemplo, em vez de apenas comprar bens de consumo avidamente.
A cultura e a sociedade têm papel importante. Um estudo comparativo (2014), realizado por Shigehiro Oishi e Ed Diener em 132 países, mostrou que os cidadãos de países pobres fazem mais referência ao sentido da vida do que os cidadãos de nações altamente industrializadas. Mais: Pessoas que precisam lutar pela sobrevivência têm menos dúvidas quanto ao sentido da vida, porque para eles é absolutamente claro o que devem fazer e por quê.
TRABALHO
Por outro lado, as pessoas mais preocupadas com o sentido se frustram mais facilmente com suas próprias atitudes e com as atitudes alheias. No âmbito do trabalho isso é muito comum entre médicos e enfermeiros. “O fato é que poucas atividades profissionais podem realmente dar sentido à vida de uma pessoa”, diz Schnell.
Mas o mais importante, concluiu Schnell, é que talvez seja mais saudável buscar a autorrealização no tempo livre, em vez de buscá-la no trabalho. Durante décadas fui um workaholic e acreditei que o trabalho me daria sentido. Hoje penso/ajo diferente. Trabalho menos, possuo menos e não tenho mais uma carreira na qual apostar todas as minhas fichas. Até a minha escrita melhorou (risos).