Pode parecer abstrato, mas não. Autoestima é uma necessidade humana real, porque: 1) contribui significativamente para a fluência do processo de viver; 2) ajuda a desenvolver uma personalidade sadia; e 3) tem a ver com sobrevivência (sem autoestima é muito mais difícil enfrentar os desafios). A autoestima tem função vital. E o único modo de possuir uma (de preferência alta) é recorrendo à ação. Não há outro modo. A autoestima não move montanhas, mas te permite escalá-las.
SÓLIDA E FACTÍVEL
Antes de tudo, precisamos aceitar que a autoestima não existe em estado gasoso (risos). Ela é sólida. Tão sólida que podemos senti-la dentro de nós ou identificá-la nos outros. As duas condições preliminares seriam: tenho ou não tenho autoestima? Vamos supor que você a tem. Isto significa: que você se valoriza; que está consciente de seus pontos fortes e fracos; que confia em suas atitudes e em seus julgamentos; e que, mesmo sob a pressão do medo e do estresse, você é capaz agir.
E pode alguém não ter autoestima nenhuma? Zero de autoestima? Não (muito provavelmente, não). Uma pessoa sem autoestima seria aquela que sequer tem consciência de que a autoestima existe e é factível. Mais: uma pessoa com uma autoestima baixa não sabe o que é ter autoestima alta. E como fazer alguém com baixa autoestima entender isso? Mostrando-lhe como a sua vida seria melhor se ela tivesse uma autoestima mais alta.
RAIZ DA RAIZ
Com base em suas experiências de consultório e em pesquisas empíricas, os psicoterapeutas são unânimes em afirmar que o problema de fundo da maioria de seus pacientes é praticamente o mesmo: sentem-se inadequados, culpados, envergonhados e/ou inferiores; não aceitam o próprio modo de ser; declaram-se vítimas de seus passados; carecem de autoconfiança. Em resumo, falta-lhes consciência em relação à existência e à importância da autoestima para gozar a vida.
Pense em problemas psicológicos como ansiedade, depressão, desempenho acadêmico ou profissional insatisfatório, fobias (de intimidade, felicidade, sucesso, etc.), uso abusivo de álcool e drogas, violência doméstica, distúrbios de sexualidade, passividade, carência crônica de objetivos, suicídio, crimes violentos, etc. Afora os distúrbios de natureza biológica, é difícil pensar em transtornos mentais que não estejam enraizados em uma autoestima baixa.
NA PRÁTICA
Na prática, a (baixa) autoestima é um dos fatores que explicam, por exemplo, as equivocadas escolhas de namorado(a)s, os casamentos que só geram frustração, as carreiras que não levam a lugar nenhum, as aspirações auto-sabotadas, as ideias promissoras que morrem logo depois de nascerem, os hábitos alimentares destrutivos, os sonhos que nunca se realizam, a ansiedade e a depressão crônicas, a baixa resistência a doenças…
A autoestima tem relação direta com: dependências químicas; fome insaciável de amor e de aprovação; dificuldade de se recuperar de uma grande tragédia ou de uma pequena adversidade; perfeccionismo; medo de fracassar, horror de perder o status quo, etc. Não por acaso, a frase de consolação favorita de quem tem autoestima baixa e não quer falar a respeito é sempre a mesma: “Mas, no fim das contas, quem está feliz neste mundo tão injusto?”.
O CONTRÁRIO DE FINGIR
O conceito que temos de nós mesmos impacta o nosso destino. Não é possível entender o comportamento de uma pessoa sem entender o conceito que ela tem de si mesma. Não há obstáculo maior à (sensação de) felicidade do que o medo de não ser digno de amor e de estar predestinado a sofrer. Por mais paradoxal que possa parecer, o que falta a muitos de nós é a coragem de aceitar a (sensação de) felicidade e evitar a auto-sabotagem.
Quando possuímos uma autoestima, digamos, sem conflitos, o motor da nossa existência é a alegria de viver, não o medo, não o sofrimento. Quando possuímos uma autoestima consciente procuramos expressar aos outros quem realmente somos, em vez de ficarmos nos justificando/desculpando por existirmos. Quando possuímos uma autoestima elevada, paramos de tentar provar que temos valor e colocamos em prática as nossas possibilidades. É o contrário de fingir-se vivo.
MUTÁVEL E DINÂMICA
Um dos maiores equívocos em relação a esse assunto é crer que a autoestima é inata e que basta ser capaz de despertá-la para poder possuí-la. Não, você não nasceu com uma autoestima (baixa, alta, oscilante, seja o que for). A autoestima é dinâmica, fruto de um processo construtivo longo e tortuoso, que ocupa toda a vida. Mais: você atinge algum nível de autoestima depois de muito esforço pessoal e nada garante que você a manterá firme e forte para todo o sempre.
Outro equívoco é pressupor que a autoestima foi estabelecida de uma vez por todas durante a infância. Não. Ela pode crescer na maturidade ou mesmo deteriorar-se. Existem pessoas que se tinham em alta conta vinte anos atrás mas não agora que têm 60 anos de idade (e vice-versa). A autoestima pode subir, descer, crescer e diminuir muitas vezes no curso de uma vida. Comigo foi assim. E com você, como foi?
CONFIRA A SUA
Quando está tudo bem (ou quando tudo parece estar bem), sua autoestima fica praticamente intocada. Mas quando sofremos grandes abalos e golpes pesados mesmo a autoestima mais “sólida” pode baixar a níveis alarmantes. Então, em vez de se preocupar com o grau da sua autoestima, talvez seja melhor verificá-la de outro modo. Assim: após um período difícil, sua autoestima estará restaurada se você for capaz de:
- falar sobre si mesmo(a) de um modo positivo;
- aceitar elogios sem constrangimentos;
- reagir com menos emotividade às pequenas adversidades do dia a dia;
- ampliar seu leque de interesses (não estar focado somente em trabalho, por exemplo).
- não depender exclusivamente da opinião alheia para pode seguir em frente;
- não mais gastar energia para proteger/promover a sua autoestima;
- evitar que as feridas do teu amor-próprio infectem os seus pensamentos;
- parar de perder horas/dias remoendo as supostas humilhações sofridas;
- entender que esta pequena lista é um objetivo para se ter sempre em mente, não uma obrigação;
- A autoestima tem função vital.
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