Todos os dias nos deparamos com circunstâncias novas que não tínhamos de enfrentar vinte anos atrás. Temos poder na ponta dos dedos, graças às tecnologias, mas precisamos resolver uma variedade muito maior de problemas (simples e complexos). Em um cenário assim o pensar analítico, muito valorizado por passar a ideia de frieza e exatidão, é insuficiente para dar conta da realidade. Mas temos à disposição um nível superior de processamento mental: o pensamento flexível-elástico.

FLEXÍVEL-ELÁSTICO
Pensamento flexível-elástico é aquele que nos dá a capacidade de resolver novos problemas e de superar as barreiras neurais e psicológicas que nos impedem de enxergar o que está fora da ordem existente, escreveu o cientista Leonard Mlodinow em seu livro “Elástico“. Em um cenário de inovações o emprego de variadas formas de pensar pode nos ajudar a enfrentar situações que não se resolvem com “resposta certa” (baseada numa lógica elementar e ancorada no passado).
Nosso cérebro faz cálculos mentais mais ou menos como um computador, organizando, hierarquizando e processando as informações segundo as estruturas superiores de cognição. Os cientistas chamam isso de “processo de cima para baixo”. Porém, o cérebro também pode funcionar “de baixo para cima”, afirmam. Nesse caso, os neurônios disparam de forma complexa e sem direção a partir de uma demanda específica. Informações emocionais também são consideradas, no caso.
O MITO DA AVERSÃO
Os ambientes físico, social e intelectual têm mudado num ritmo sem precedentes. O conhecimento científico, por exemplo, vem aumentando exponencialmente ao longo do tempo. Significa que precisamos acrescentar novos conhecimentos tão rapidamente que nenhum ser humano consegue acompanhar. Como se não bastassem as surpresas (positivas e negativas) que podem mudar a vida num instante, a gente tem de lidar com expansões de dados estratosféricas.
É natural que a gente reaja mal a mudanças que resultem em maior risco de ser demitido, carga de trabalho maior, recompensa menor, transferência para lugares não desejados, fim do convívio com pessoas queridas ou mesmo uma simples alteração na pausa para almoço que vai te deixar com fome por uma hora a mais. Porém, tais comportamentos não são prova de aversão à mudança. Não. O novo e a mudança são muito atraentes para nós, humanos. Isso se chama neofilia.
O QUE É “PENSAMENTO”?
Os livros sobre neurociência mais ou menos respondem a essa pergunta assim: pensamento é o ato de observar, identificar e fornecer respostas significativas a estímulos; e caracteriza-se pela capacidade de gerar ideias encadeadas, sendo muitas delas totalmente novas. O que chamamos de pensar não é uma necessidade para a maioria dos animais. No reino animal, pensar é exceção, não regra. Os animais têm vidas padronizadas e se dão muito bem agindo como autômatos.

Considere as situações em que você se sente refém de problemas complicados. Considere as convicções negativas que você nutre sobre o teu potencial de realização e sobre o teu modo de ser. Você diz, por exemplo: “Tocar piano não é para mim”, “sou nulo em matemática”, ou “não posso crescer na carreira porque fiquei obsoleto”. Pensamentos assim geralmente começam a se formar em nós na infância ou depois do primeiro insucesso, reforçando a nossa suposta inaptidão.
MENTALIDADE ESTÁTICA
A pesquisadora e escritora Carol Dweck, da Universidade Stanford, que por décadas estudou os fatores que favorecem a nossa capacidade de realização/satisfação, cunhou a expressão “mentalidade estática” para descrever uma disposição psicológica de fundo que influencia nossa visão de mundo e nossas atitudes cotidianas. Uma pessoa com essa disposição mental tende a acreditar que inteligência, capacidade, criatividade e habilidade física são traços inatos e imutáveis.
Essa visão restritiva coloca nas costas dessas pessoas um peso extra insuportável. Diante de qualquer obstáculo, elas ou rejeitam o desafio ou ficam paralisadas. Outra consequência negativa da mentalidade estática é sentir pressão constante para vencer sempre. Para essas pessoas, a performance é reflexo direto de suas personalidades. Para se darem valor, precisam provar que são inteligentes e eficazes. O medo de falhar é tão agudo que deixam aberto o caminho para espirais de ansiedade e depressões.
MENTALIDADE DINÂMICA
Como escapar dessa disposição psicológica que paralisa processos e causa angústias? Carol Dweck expôs em seus estudos uma segunda forma mentis da qual podemos extrair mais vantagens do que desvantagens: a mentalidade dinâmica. Pessoas com mentalidade dinâmica acreditam que suas próprias capacidades podem evoluir e melhorar graças ao empenho e à perseverança. Tendem a encarar uma situação complicada ou um fracasso como um revés transitório e/ou como uma oportunidade.
Em vez de se desencorajarem ou se deixarem paralisar por eventuais derrotas, indivíduos com mentalidade dinâmica aprendem, mudam, tentam de novo, insistem. Essa diferença de reação foi demonstrada em 2011 por Jason Moser e colegas da Universidade de Michigan. Pessoas com mentalidade dinâmica apresentam um certo sinal elétrico cerebral mais intenso (sinal associado à tomada de consciência dos próprios erros e à energia empregada para reelaborar processos).

DIRETRIZES GERAIS
“Os avanços tecnológicos que tornam o pensamento flexível-elástico cada vez mais essencial também reduzem a possibilidade de nos envolvermos nele”, escreve Mlodinow: “E assim, se quisermos exercitar o pensamento flexível exigido pelo ritmo acelerado do nosso tempo, precisamos lutar contras as constantes intrusões e desconcentrações e encontrar ilhas de tempo para nos desligarmos. Nos últimos anos essa questão se tornou tão urgente que deu origem a um campo novo, chamado ecopsicologia”.
Os ecopsicólogos recomendam: dedicar tempo à quietude; procurar atividades como correr ou tomar uma ducha em momentos de sobrecarga mental; caminhadas na natureza para restaurar a capacidade de reflexão; acordar mais cedo só para ficar na cama por alguns minutos olhando para o teto. Importante também nos engajarmos em propostas, ideias e atividades inusitadas. Isso gera milhões de novas conexões neurais e amplia a nossa capacidade de solucionar problemas e ter mais prazer em viver.